Um roda emergente e relevante!

Enquanto estávamos discutindo no evento – protagonismo da mulher na dança de salão-pensei, porque não havíamos feito isso antes.

Estávamos todas necessitando de um espaço de compartilhamento e reflexão, onde pudéssemos trazer nossas angústias, as experiências que passamos nessa prática, as nossas questões, estávamos emergencialmente necessitadas de um espaço sensível de diálogo.  Sábado dia 19/11 às 10h da manhã cheguei na sala 400 da Usina do Gasômetro e me deparei com muitas professoras, dançarinas e praticantes ansiosas para falar sobre as suas vivências e realidades. Haviam alguns homens presentes, que souberam compreender a importância desse espaço para nós mulheres, se colocando como bons ouvintes e se disponibilizando a trocar e aprender com as nossas falas.

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As convidadas – Luciana Coronel e Caroline Wüppel– se dispuseram a compartilhar suas reflexões nesse espaço, fomentando um belo debate que foi calorosamente acolhido pelos presentes. (Queria agradecer mais uma vez as meninas que toparam esse desafio e se disponibilizaram intensamente para que esse encontro fosse um sucesso).Foram tantas demandas levantadas que não conseguimos dar conta, e com certeza uma continuidade é necessária. Afinal, a dança de salão é um reflexo da sociedade e em termos de opressão e violência temos muito ainda a refletir o quanto o sistema machista e patriarcal tem regido as nossas práticas. Precisamos ainda de um espaço profundo de estudo e compreensão dessa estrutura.

Alguns pontos foram levantados e foram reforçado em diferentes falas, especialmente dentro de dois eixos centrais que envolvem esse fazer: as questões no eixo social de prática da dança de salão como bailes e festas e alguns pontos referentes ao ensino da dança de salão. Nesse sentido, faço um esforço de registro desse material, para que possamos avançar nessas temáticas nos próximos encontros.

No primeiro eixo referente à prática social da dança de salão foram apontados alguns pontos como:

  • Nunca separe duas mulheres que estão dançando juntas, não se dê esse direito pelo fato de ser homem. Você provavelmente não faria isso se fosse um homem e uma mulher dançando. Isso é uma violência e não deve acontecer.
  • Tod@s têm o direito de não dançar, independente do motivo, isso deve ser respeitado e compreendido.
  • Mulheres e homens podem e devem convidar outros para dançar.
  • Respeite ao corpo do outro, nunca seja intolerante e grosseiro, porque alguma mulher não consegue/deseja fazer o movimento que você propôs. O limite do corpo é individual e deve ser respeitado.

No segundo eixo referente ao ensino da dança de salão foram debatidas as seguintes colocações:

  • Você pode usar a metodologia que desejar, entretanto o importante é refletir que o sistema tradicional de dança de salão e o poder do discurso reforçam sim um estereótipo de homem e de mulher.
  • Muitas das piadas “padrões” utilizadas são extremamente ofensivas e opressoras, porque reforçam esse papel.
  • Devemos enquanto professores e formadores estar sensível em nossas aulas e refletindo sobre o nosso fazer.

Por fim, trago a minha colocação que fiz na roda para esse relato: provoco você, professor de dança de salão, para pensar o quão privilegiado é pelo simples fato de ser homem. No mundo do trabalho ser homem é ganhar mais, não precisar escolher com que roupa sair na rua com medo de assédios, na dança de salão é poder ter liberdade de dançar com quem quiser, é ter o nome reconhecido e lembrado e o da suas parceira não, é ter espaço em sala de aula e não se preocupar se haverá um momento para que você possa falar. Enfim entre muitos outros exemplos que eu poderia citar.

Convido-o a refletir sobre esses pontos e pensar quantas vezes sua colocação foi opressora e sua piada toliu a sua parceria. Enfim, se você não reconhecer que suas vivências partem de um sistema patriarcal e machista, você continuará velando e mascarando as suas impressões cotidianas. No mais penso que precisamos ter cuidado em apenas se apegar ao discurso de liberdade e diversidade, porque além de palavras, são necessárias ações para que se possa hackear um sistema. Afinal, somos tão aprisionados a esse sistema que a liberdade do desejo não é permitida, talvez jamais possa passar pela cabeça do meu aluno que ele poderia ser conduzido, que uma mulher pudesse conduzir, e que ambos não seriam desqualificados por isso. Porém, desejar é proibido, não se deseja aquilo que não é visível, sem possibilidades sou fadada a desejar o que me é oferecido. Será mesmo que tenho dado espaço para os meus alunos se colocarem como desejam em sala de aula?

Reflexões e conversas que ainda precisam de tempo para maturarem, porém finalizo esse relato feliz pelo espaço e agradeço mais uma vez à todos que estiveram nessa roda. Tendo em mim uma pulsante certeza da importância de continuarmos esse debate, tendo como viés o movimento  – ou seja FAZER- sair do plano das ideias e fazer! As transformações se dão na vida material e não no plano das ideias, seja no seu espaço individual ou na atuação coletiva.

Uma foto descontraída da nossa linda manhã!

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