Hoje vou falar sobre vida, ou melhor sobre a minha experiência de estar viva nesse momento. Principalmente sobre a dificuldade de lidar com as minhas emoções. Sobre ser mulher no meio de tudo isso, e sentir uma grande insegurança em poder sentir as coisas que tenho passado. Curiosamente, descobri que tenho passado um certo sufoco interno por nem sempre conseguir expressar o que tem atravessado a minha pele. Parece que as emoções precisam vir sempre justificadas e esclarecidas como se elas precisassem ser acompanhadas de explicações. Sentir e vivenciar a raiva, o ciúmes, o medo, o amor, sem mais. Apenas deixar transbordar.
Uma vez me disseram que se eu chorasse perderia a razão em uma discussão. Hoje vejo que meus olhos (talvez por serem grandes) facilmente se preenchem de lágrimas as quais escorrem pelo meu rosto, e na maioria das vezes fico com vergonha e quero conter elas a todo custo. Parece que as lágrimas seriam o reflexo da minha fraqueza, das minhas inseguranças, das minhas faltas de sentido, e dos meus erros.
Elas são a prova do quanto o meu corpo sente, e muito, tudo que está ao redor. Não é algo ruim poder deixar que elas apareçam e que o chorar não descredibiliza todo o resto que sou. Não destitui a minha competência. Isso pode parecer talvez meio óbvio, mas na prática tenho percebido que tenho muitas restrições para colocar para fora as emoções. Talvez seja por isso que há anos sofro com alergias na pele. Seriam elas frutos de emoções sufocadas dentro desse corpo inquieto?
Inquietações contidas dos bichos vorazes que me habitam e talvez possam ser demais para o outro, principalmente esse outro chamado bicho homem.
Curioso é pensar nessa tal histeria ou na imaturidade emocional, nas palavras de hoje. Qualidades lançadas aos corpos de mulheres que gritam, choram e agridem, em meio ao caos, e a temperatura exacerbada da panela de pressão em que vivemos para lidar com tantos bebês-adultos.
Queria hoje poder gritar, mas estou sem voz. Então me resta desabafar em palavras aqui nesse espaço. Cansada de conter o que não pode ser contido. Indisposta me sinto, ao me deparar de novo e de novo com ele que não consegue olhar além de si, preso a medos e discursos de liberdades vazios.
BICHO-BRUXA-FISSURANDO A PELE
Foto de Luiz Felipe Fereira